Luís Martini
Cultura Woke e a Destruição do Mercado
A cultura woke se destaca como um fenômeno social e político amplamente discutido nos últimos anos, influenciando significativamente o comportamento de empresas e consumidores. Marcas renomadas e movimentos culturais globais sentem o impacto da cultura woke em praticamente todos os setores da sociedade. Mas afinal, o que é a cultura woke e como ela molda – ou, como argumentam alguns, destrói – o mercado?
O que é a Cultura Woke?
A cultura afro-americana deu origem à expressão “woke”, que inicialmente designava pessoas “acordadas” para questões sociais e raciais. Com o tempo, o uso do termo se ampliou para abranger diversas causas sociais, como justiça social, igualdade de gênero, direitos LGBTQIA+ e preocupações ambientais. Hoje, indivíduos, grupos ou instituições que adotam uma postura progressista, frequentemente focada em desconstruir sistemas de opressão e promover uma agenda de inclusão, são descritos como “woke”.
Embora o conceito de “acordar” para questões sociais seja, em essência, nobre, muitos criticam a cultura woke moderna. Eles argumentam que, ao focar em excessos e exigir conformidade ideológica, a cultura woke transforma-se em um ambiente de censura e cancelamento, onde suprimem discordâncias e pressionam marcas a seguir determinadas diretrizes sociais, sob o risco de boicotes e prejuízos econômicos.
Proponentes da Cultura Woke
O crescimento da cultura woke foi impulsionado por uma variedade de movimentos e figuras influentes. Entre eles, podemos destacar:
Movimentos Sociais e Protestos:
O movimento Black Lives Matter (BLM) foi um dos catalisadores que trouxe a questão racial para o centro do debate público. Ao denunciar a violência policial e a discriminação racial, o BLM ajudou a amplificar a agenda woke.
Mídia e Celebridades:
Várias personalidades da mídia e do entretenimento passaram a endossar causas progressistas, utilizando suas plataformas para impulsionar temas relacionados à justiça social. Celebridades como Beyoncé, John Legend e Emma Watson são algumas das figuras que frequentemente abordam questões woke.
Corporativismo e Inclusão:
Empresas como Google, Nike e outras gigantes globais adotaram políticas de diversidade e inclusão, sendo algumas vezes criticadas por se curvarem às pressões sociais em vez de seguirem suas próprias diretrizes de mercado.
O Impacto da Cultura Woke no Mercado
À medida que a cultura woke cresceu, muitas empresas começaram a adotar suas diretrizes para evitar que o público as “cancelasse” ou boicotasse. A pressão para que as corporações demonstrem responsabilidade social e apoiem causas progressistas se tornou uma constante em todos os setores. No entanto, essa adoção tem sido uma faca de dois gumes: enquanto algumas marcas conseguiram fortalecer seu apelo junto a um público mais jovem e consciente, outras sofreram um impacto negativo significativo.
Marcas que Prosperaram
Algumas empresas conseguiram surfar a onda woke com sucesso. Elas adotaram uma postura clara em relação a temas sociais e foram amplamente aceitas por consumidores que valorizam a justiça social. Um exemplo notável é o da Ben & Jerry’s, uma marca de sorvetes que há anos apoia causas progressistas, como a luta pelos direitos LGBTQIA+ e a justiça racial. Seu ativismo social ajudou a reforçar a lealdade de seus consumidores e a posicionar a marca como um exemplo de empresa “consciente”.
Outro exemplo é a Nike, que em 2018 escolheu Colin Kaepernick, jogador de futebol americano que se tornou conhecido por protestar contra a brutalidade policial ajoelhando-se durante o hino nacional, como um de seus principais porta-vozes. Embora tenha enfrentado críticas de certos setores conservadores, a Nike conseguiu reforçar seu apelo junto a públicos mais jovens e progressistas, o que resultou em um aumento significativo nas vendas.
Marcas que Sofreram
Por outro lado, nem todas as empresas que adotaram uma postura woke prosperaram. Algumas enfrentaram reações negativas que severamente afetaram seus negócios ao cederem às pressões sociais. Um exemplo clássico é o da Gillette, marca de produtos de higiene masculina.
Em 2019, a empresa lançou uma campanha publicitária que criticava a masculinidade tóxica e incentivava os homens a adotarem comportamentos mais positivos. A campanha, que fazia parte da onda woke, recebeu reações polarizadas. Embora alguns aplaudissem, muitos consumidores a criticaram como condescendente e desrespeitosa. O resultado foi uma queda significativa nas vendas e uma perda de mercado para a marca.
Outro exemplo recente é o da Bud Light. Em 2023, a cervejaria fez uma parceria com Dylan Mulvaney, uma influenciadora transgênero, o que gerou uma reação negativa considerável, principalmente de consumidores conservadores. O boicote à marca foi tão intenso que a Anheuser-Busch, controladora da Bud Light, viu suas ações despencarem, além de perder mercado para concorrentes que se mantiveram distantes da controvérsia.
impacto econômico da cultura woke
Um dos aspectos mais controversos da cultura woke é o fenômeno do “cancelamento”. Marcas que falham em se alinhar com determinados valores sociais são rapidamente colocadas no centro de campanhas de boicote, que muitas vezes resultam em perdas econômicas significativas. O “cancelamento” é uma arma poderosa utilizada por consumidores, mas muitos argumentam que essa prática pode sufocar o debate e limitar a liberdade de expressão das empresas. Para muitas marcas, a cultura woke representa um campo minado onde qualquer deslize pode levar a consequências graves.
Como as Empresas Estão Reagindo à Cultura Woke
A adoção da cultura woke no mercado tem gerado uma série de resultados diferentes, com algumas conseguindo melhorar sua imagem e outras enfrentando prejuízos consideráveis. O sucesso ou fracasso de uma marca ao adotar princípios woke depende de vários fatores, incluindo a forma como a mensagem é transmitida, o público-alvo da empresa e a capacidade da marca de se adaptar às mudanças sociais sem alienar seus consumidores principais.
Case de Sucesso: Starbucks
A Starbucks é um exemplo interessante de uma marca que tem se envolvido em questões sociais sem sofrer grandes impactos negativos. Além disso, a empresa sempre se posicionou como progressista, promovendo iniciativas de inclusão e diversidade dentro e fora de seus estabelecimentos. Embora tenha enfrentado algumas controvérsias, como o caso de dois homens negros que foram presos em uma loja na Filadélfia, a Starbucks conseguiu transformar a situação em uma oportunidade para reforçar seu compromisso com a inclusão, por meio da implementação de programas de treinamento em todo o país. Consequentemente, a marca manteve sua relevância no mercado e sua base de consumidores leais.
Case de Fracasso: Victoria's Secret
Por outro lado, a Victoria’s Secret é um exemplo de uma marca que, infelizmente, sofreu com sua tentativa de se alinhar à cultura woke. Depois de anos sendo criticada por promover padrões de beleza irreais, a empresa decidiu, portanto, reformular sua imagem, substituindo seus famosos “Angels” por porta-vozes mais diversificados e inclusivos. No entanto, essa mudança foi recebida com indiferença por muitos consumidores; assim, as vendas da marca continuaram a cair. Além disso, a tentativa de se adaptar à cultura woke não foi suficiente para resgatar a popularidade da marca, que ainda enfrenta, portanto, desafios consideráveis para reconquistar seu público.
A Polarização do Mercado
Um dos principais impactos da cultura woke no mercado é a polarização. Nesse sentido, à medida que marcas adotam posturas sociais mais claras, por outro lado, elas correm o risco de alienar certos grupos de consumidores. De fato, empresas que optam por apoiar causas progressistas muitas vezes enfrentam boicotes de consumidores conservadores, enquanto aquelas que resistem à pressão social são criticadas por não se alinhar com os valores da inclusão.
Essa polarização cria um cenário em que as empresas precisam escolher cuidadosamente suas batalhas. De um lado, elas correm o risco de perder consumidores se não aderirem à cultura woke. Do outro, podem alienar sua base de clientes tradicional se parecerem ceder demais às demandas progressistas. É uma corda bamba delicada, onde a falha em encontrar o equilíbrio certo pode resultar em perdas devastadoras.
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Conclusão
A cultura woke trouxe mudanças profundas para o mercado, exigindo que as marcas sejam mais conscientes e atentas às questões sociais. Embora algumas empresas tenham conseguido prosperar ao adotar essa nova mentalidade, outras enfrentaram reações adversas que impactaram negativamente seus negócios. O desafio, no futuro, será encontrar um equilíbrio entre atender às demandas progressistas sem alienar uma parcela significativa de consumidores. No final das contas, o sucesso dependerá da autenticidade e da capacidade das empresas de se adaptarem às mudanças culturais contínuas.